Do BLOG de Elaine Tavares
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Fotos: Rubens Lopes
Primeiro dia de trabalho na Câmara de Vereadores da cidade de Florianópolis e os representantes de diversas entidades do sul da ilha de Santa Catarina (Florianópolis) fizeram ouvir sua palavra. Munidos de faixas e cartazes eles ocuparam a galeria e entregaram um documento a cada um dos vereadores. Neste documento estão colocados todos os problemas que o sul enfrenta com o crescimento desmedido, construções irregulares, desperdício de água potável, mega empreendimentos e eventos grandiosos que não encontram estrutura, uma vez que o bairro é eminentemente residencial.
O ponto que detonou mais uma jornada de luta no sul foi a realização de um mega show patrocinado, promovido e organizado pela empresa Skol, sem qualquer contato com a comunidade do Campeche ou com a prefeitura municipal. Mas, a despeito disso, todo o sul da ilha vem lutando desde há mais de quatro anos quando iniciou mais um processo de construção do Plano Diretor, chamado de participativo, que terminou abruptamente porque a prefeitura decidiu contratar uma empresa de fora de Florianópolis para esboçar um plano para a cidade.
No documento entregue para os vereadores, as entidades do sul da ilha exigem que a Câmara estabeleça uma moratória na liberação de licenças para construções na cidade até que seja definido de uma vez por todas o Plano Diretor. É também uma maneira de retomar a luta por este plano que foi cuidadosamente construído por toda a cidade e que acabou preterido pelo governo de Dário Berger.
O show do Ben Harper é, na visão das lideranças comunitárias, apenas mais um braço da ocupação irregular e desordenada que está sendo promovida no sul por mega empreendedores que, pela força do dinheiro, conseguem quebrar leis e definir alteração de zoneamento. As comunidades que constituem todo o sul da ilha estão na defesa do seu modo de vida que é a vida simples e com qualidade. Ninguém por ali quer se transformar num balneário aos moldes de Canasvieiras ou outros espaços do norte da ilha que hoje sofrem com empreendimentos mal planejados e invasivos. A idéia da realização de eventos grandiosos é uma tentativa de apresentar para a comunidade uma realidade de turismo que aparentemente pode gerar um lucro aqui e ali, mas que no futuro mostrará sua verdadeira cara destrutiva e predadora.
As entidades que foram se manifestar na Câmara de Vereadores, que vão desde o Mosal, movimento do sul da ilha que defende um saneamento descentralizado, até associações de moradores, dos pescadores, surfistas, rádio comunitária, biblioteca livre e outras, além de muitos moradores decididos a lutar pela manutenção da comunidade como um lugar para morar e viver. Todos os manifestantes acreditam que com a moratória, a Câmara de Vereadores abrirá espaço para a discussão do Plano Diretor e aí será hora de outra luta, a que definirá o projeto de organização da cidade. Para quem está na luta desde há anos, como é o caso da comunidade do Campeche – que inclusive foi a primeira a desenhar um plano diretor há mais de 20 anos - é hora de cada morador de Florianópolis se mobilizar e lutar para que o Plano Diretor seja aquele que foi discutido de forma coletiva pelas comunidades e não um , imposto e alienígena.
A luta dos moradores do sul deve continuar. Nesta semana eles voltam a Câmara de Vereadores para cobrar dos vereadores uma resposta ao documento e esperam ainda que a prefeitura não permita a realização do mega show previsto para sábado. “Não há estrutura viária, não há segurança, nem para a comunidade nem para quem vem assistir ao show. Nós vamos cobrar responsabilidades” diz Ataíde Silva, presidente da Associação de Moradores do Campeche. “Cuidar da cidade é também discutir ética. A população tem de estar ciente disso. Quem vem de fora se diverte, mas a comunidade sofre ” , diz Gert Shinke, do Mosal.
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