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O MOSAL é um coletivo formado por pessoas e entidades de Florianópolis cujo objetivo é influir nas políticas públicas de saneamento básico, assim como promover a conscientização dos cidadãos através de ações e oficinas.
SANEAMENTO DESCENTRALIZADO
ESGOTAMENTO SANITÁRIO

RESÍDUOS SÓLIDOS

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

LIXO – Retornar à cadeia de produção ou gerar energia?

Gert Schinke – 12.01.11
O decreto-lei regulamentador da Política Nacional de Resíduos Sólidos contempla a incineração do lixo somente após esgotadas as outras opções para sua utilização: redução, reutilização e reciclagem, os famosos 3 Rs. Eis que o forte e onipresente lobby das empreiteiras que mamam na coleta, transporte e acondicionamento do lixo, negócio este que fatura bilhões por ano no Brasil e se presta a todo tipo de patifaria administrativa nos escaninhos do Estado, mantêm-se atento a uma brecha no decreto que “a recuperação energética de resíduos sólidos” deverá ser disciplinada em ato conjunto dos Ministérios do Meio Ambiente, de Minas e Energia e das Cidades, razão no nosso mais profundo temos de que a precaução referida acima NÃO SE CONSUMARÁ, e pelo menos parte dessa generosa montanha de ricos materiais será sim utilizada para gerar energia.
É uma velha e conhecida história essa da incineração do lixo. Inicialmente, lá pelos anos 80, falavam apenas em incinerar para se livrar mesmo do lixo, sem preocupação alguma com a gravíssima poluição gerada pelos gases hiper-tóxicos, pois carregados de dioxinas de toda espécie, embora já houvesse, à época, forte pressão para que se reciclasse o mesmo. Depois de muita pressão do movimento ecológico, começaram a falar em “incineração completa”, supostamente livre da geração de dioxinas e outras salpipes cancerígenos, para, logo mais adiante, apresentarem a incineração como “solução para obtenção de mais energia”. Não parece mágica? Vem a óbvia pergunta: para que tanta energia se já ressuscitaram até mesmo o Programa Nuclear Brasileiro? Fazendo da Amazônia uma gran-plantage de usinas hidrelétricas? É um argumento, portanto, claramente falacioso e que tem como único objetivo garantir uma aplicação não ecológica do lixo bruto para evitar que o mesmo seja encaminhado para seu destino correto – o retorno à cadeia produtiva que o gerou através da produção e do consumo.
Cícero Bley Jr., grande estudioso da área, cita os problemas da incineração: custos muito altos, emissão de cancerígenos como furanos e dioxina (a não ser que a temperatura esteja acima de 900 graus - o que é difícil com a mistura de lixo úmido, que baixa a temperatura), produção de escória altamente perigosa (com metais pesados e outros tóxicos, que são carreados para os rios), geração de gases em proporção maior do que em usinas termoelétricas - entre outros problemas. Não é acaso que a resistência a esse processo cresça no mundo e já haja países que o proíbam. Sem falar em dependência tecnológica que isso gerará, vide caso das turbinas eólicas, hoje produzidas aqui sob licença de fabricantes estrangeiros.
As usinas de reciclagem do poder público no País só reciclam entre 1% e 2% do lixo domiciliar e comercial (o total é de pelo menos 230 mil toneladas diárias, segundo o IBGE 2002). A situação - como tem sido dito tantas vezes neste espaço - só não é mais dramática graças à atuação desse milhão de catadores que, sob sol e chuva, sete dias por semana, recolhem e encaminham a empresas que os reciclam mais de 30% do papel e papelão e parcelas consideráveis do plástico, do vidro, do pet, do alumínio e de outros materiais.
Mas os catadores precisam de projetos integrados em que, com financiamentos públicos, tenham equipamentos adequados de coleta seletiva (caminhões com contêineres separados para lixo úmido e seco), além de usinas de reciclagem onde possam transformar papel e papelão em telhas revestidas de betume (para substituir com vantagens as de amianto), reciclar o PVC e produzir mangueiras pretas, compostar o lixo orgânico e transformá-lo em fertilizante, moer o vidro e encaminhá-lo para recicladoras, assim como latas de alumínio. Onde isso é ou já foi feito (como em Goiânia), a redução de lixo encaminhado ao aterro chega a 80%, com enorme economia para o poder público, livrando-o da dependência de grandes empresas, cuja lógica é “deixar as coisas do jeito que estão”.
Esse processo permite também evitar o desperdício de materiais. Permitiria ainda aliviar parcialmente o drama das grandes cidades brasileiras, quase todas com seus aterros esgotados ou próximos disso e, alegadamente, sem recursos para implantar novas unidades.
Em Florianópolis, sob o comando de Dario – o predador do planejamento, já foi anunciado oficialmente que o “aterro sanitário” de Biguaçu durará mais cinco anos apenas e, a partir de então (mas muito antes desse prazo), terá que haver outra solução de encaminhamento para o lixo doméstico de Florianópolis. A questão é muito simples. Há, por parte da administração municipal, “um compromisso” com a empreiteira transportadora do lixo da capital para o aterro e por isso não há vontade alguma em agilizar um programa eficiente de reciclagem na cidade. Ela recebe por tonelada transportada, pasmem. Assim, interessa reciclar alguma coisa?
No Brasil inteiro, sob a batuta das empreiteiras ligadas à coleta de lixo e outros serviços associados, começou um “frenesi” em torno da incineração, pois, seguindo essa lógica, supostamente se resolveria a destinação de boa parte do lixo, assim como haveria contribuição de energia para a rede geral. Resultado: ao invés do lixo ser reciclado pelas mais diversas formas como as conhecemos, passíveis de enorme aprimoramento, ele é encaminhado para o lugar mais impróprio – a queima.
A partir daí, surge a pressão das empresas de incineração. E por esse caminho o Recife já parte para uma usina de incineração de 1350 toneladas diárias (no momento, com licença ambiental embargada pelo município do Cabo). Unaí (MG) tomou o mesmo caminho. Barueri já está promovendo licitação para incinerar 750 toneladas diárias. São Sebastião ameaça seguir o mesmo rumo, assim como Brasília e a Baixada Fluminense.
Vamos acompanhar de perto o que fará o lobby da energia ligado ao Ministro Lobão, que nos últimos anos colou sua figura ao incremento das faraônicas obras na Amazônia (Belo Monte, entre elas), ao renascimento da energia nuclear e, quiçá logo mais, ao “nascimento” da energia térmica gerada pelo lixo. É um “paizão”!!!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

DIÁRIO CATARINENSE...

***os comentários em negrito foram adicionados pelo MOSAL

  • 8 de fevereiro de 2011 | N° 9075 - CONTRACAPA | Marcos Espíndola

    -... faço outro reconhecimento: toda a grita do povo do Campeche na semana passada influenciou decisivamente na organização impecável do evento.

    (1-veja nosso comentário abaixo)

    ... Parecia um roadie de banda afinando o instrumento. Foi o melhor momento para matar a fome ou aliviar-se no banheiro.
     ( 2- ver foto de registro) 

    - O Stage Music Park fez uma consulta via Twitter para saber quais shows os internautas gostariam de assistir em 2011, aqui na Capital....
    (3- já estão programando mais???)

    - Não sei quanto ao restante da Capital, mas o local mais seguro no final de semana na Ilha era o Point do Riozinho, no Campeche. Impressionante o aparato de segurança armado pelas polícias Militar (incluindo o Bope e Polícia Ambiental), Civil (que deslocou até um helicóptero) e Corpo de Bombeiros. Até a Guarda Municipal deu o ar da sua graça! Se fosse um festival bancado apenas com a venda de ingressos, a renda não cobriria metade dos custos (produção e aparato de segurança externo). Essa brincadeira custou muito caro, mas valeu! ( caro, mesmo! Haja propina!!!- ao trabalho vereadores!)
Pois é...


1- Os gatos pingados que estavam preocupados com o próprio umbigo anteviram os perigos que PMF, FLORAM, POLÍCIA, ORGANIZADORES não viram porque estavam MUITO preocupados com  a grana que estava rolando pra que as licenças saíssem em apenas 4 dias !!! 

Se tivéssemos ficado quietos, eles teriam se ferrado! 

É a contradição que o bom senso e a honestidade nos obrigam a viver nesses dias de vale tudo e prazer imediato.  Em nossa briga pela preservação da natureza e de nossos direitos de cidadãos, a infecção oportunista da ganância pura e especulação desenfreada se aproveita e se espalha de maneira ainda mais eficiente.

A versão "oficial" do sucesso segundo PMF ( Dario Berger e João Batista), FLORAM ( Gerson Bassos), RBS e cia é a beleza pura!

Abaixo seguem as fotos tiradas por um de nossos companheiros, que ofereceu-se para trabalhar como segurança e foi prontamente aceito!!! Vale tudo!!! Ninguém pediu documentação, experiência nem nada. 


2- O banheiro que a mídia não mostrou!
















3-Querem continuar com outros shows!!! O norte já foi usurpado... agora querem acabar com o sul...




















Vejam lá dentro da área de preservação permanente... ao fundo da foto... um homem se aliviando durante o show!!! O banheiro mais usado!!! E a FLORAM... passeando! E nós pagando!!!!
 
Faltou grana para mais lixeiras?
Essa lixeira foi trazida pelo vendedor...
É a tchurma legal do descarto tudo que quer curtir o som na praia!!!!
Agora, vejam só!!!
Este foi o urinol mais usado... Não, não... as casinhas, não! As paredes, mesmo... o canto!!!
Essa os jornais não mostraram...
Essa é sua turma, Amarelo???




A turma do Amarelo e do Plim- Plim age assim!
Uau!
APP é prá isso que eu te quero!!!
 A proteção perfeita da APP tão anunciada pela mídia!!!
Essa é sua turma, organizador!!!! Detonannnndddooo, cara!!!






E depois do xixi... Campeche!!! É prá isso que eu te quero! Uhuuu!!!!!




Dunas??? Mui bem protegidas!!!!






Para mais fotos... facebook do nucleodistritalplanicie-campeche ...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A natureza não é coisa


Por Elaine Tavares  - jornalista

O povo do sul da ilha de Santa Catarina lutou bravamente para defender seu modo de vida, contra a proposta das mega-empresas de fazer da nossa casa um lugar de baladas e eventos gigantes. Perdemos a batalha, mas isso não significa que a luta esteja acabada. Por aqui pelas terras do sul, há décadas que as pessoas lutam, na tentativa de não deixar a comunidade sucumbir diante do jogo especulativo do capital, que tudo o que toca transforma em mercadoria. Temos bem diante dos olhos o triste exemplo do norte da ilha, onde a praia e a vegetação são apenas moldura para um estilo de turismo que não dá a menor importância para o ambiente.

O turismo milionário de lugares como Jurerê, Canasvieiras, Ingleses e até Balneário Camboriu, está pouco se lixando para o meio ambiente. As pessoas estão ali como poderiam estar em algum lugar em Paris, Nova Iorque, Istambul, São Paulo. O que vale ter é gente bonita, sarada, feita em mesa de cirurgia ou academia, muito champanhe e algum “estimulante” da hora. Em Florianópolis há um programa de televisão apresentado por um garoto chamado Leo Coelho que mostra muito bem isso. Ele só entrevista gente rica, destas que vem para a ilha em busca de lugares VIP como o costão do Santinho ou algum “lounge” no Jurerê. O que se ouve, nas entrevistas, é um festival de bobagem de gente que não tem compromisso algum com os lugares onde estão. Eles são os gafanhotos, aqueles que chegam e devastam. Pouco se lhes dá se o complexo do Santinho impede a comunidade de visitar a praia, não querem saber se regiões inteiras foram destruídas para que pudessem se recostar em voluptuosos sofás à beira de piscinas gigantes, tendo como fundo o mar. A imensidão azul é só cenário. Não desfrutam a praia, não se importam. Mergulham no vinho e no espumante. Esse é seu mundo. Querem o melhor salmão e não querem saber se para que ele chegue às suas mesas é necessário que um homem do mar tenha de enfrentar a fúria das ondas e toda a sorte de infortúnios causados pela poluição que empurra o peixe cada vez mais para longe.

As comunidades do sul da ilha não vêem a natureza como uma moldura bonita para suas vidas de plástico. Não. A natureza faz parte do modo de vida. A relação dos homens e mulheres com o mar, as dunas e a restinga, é de simbiose, harmonia, respeito. Cada nódoa no oceano, cada mancha na areia, cada árvore caída é vista com cuidado, investigada, tratada, porque boa parte das pessoas que vivem no sul sabe que suas vidas dependem da qualidade do ambiente. Não distinguem nem separam natureza   humanos. Tudo é uno. Daí que no Campeche, no Pântano, na Solidão, na Armação, e em outras comunidades do sul – e mesmo do norte -  há gente que faz do lugar sua morada, seu espaço de vivência. A paisagem, então, não é coisa passageira, moldura de festa ou de lazer. A paisagem é permanente, parte da vida, é coisa viva, cheia de sacralidade. Para as pessoas que desde há décadas vem travando lutas pela qualidade vida no sul da ilha, esse papo de ecologia não é grife, nem moda, é coisa visceral, é a vida mesma, porque não há meio-ambiente, há ambiente inteiro com pessoas, bichos e plantas, tudo integrado.

E é porque as gentes pensam como pensam que estão em luta por um Plano Diretor que leve em conta esse jeito de encarar a vida. Querem comunidades planejadas, de casas baixas, vizinhos que se conhecem, com saneamento comunitário, água limpa, bichos circulando pelos caminhos, passarinhos cantando, água do mar clarinha, areia branca, ruas de pedra, procissão, barqueata, festa do divino, quermesse, banda de música passando pelas ruas, bicho de pé, bananeiras no quintal. Por que é tão difícil respeitar isso?   Por que os serviçais dos milionários insistem em tentar ridicularizar esse modo de vida? Afinal, são estas pessoas que eles chamam de eco-chatos, odaras e que tais, que mantêm este espaço geográfico ainda capaz de se prestar ao turismo. Porque se as praias deixarem de existir tampouco poderá sobreviver a idéia de que aqui é um paraíso.

A natureza não é coisa, não é produto nem mercadoria. Ela está viva e atenta. Se destruírem as dunas, a vegetação, a restinga, o mar há de avançar, comendo as casas, os hotéis, os “lounges”, mesmo os mais finos, porque não há dinheiro que compre a fúria do oceano. “Tudo que se faz à terra, se faz também aos filhos da terra”, diz a longínqua e sábia fala indígena. O povo do sul quer viver em harmonia e vai lutar por isso, a despeito de todos os vilões da mídia, das mega-empresas e da municipalidade. Inclusive, a despeito dos vilões mais próximos, que vivem no mesmo espaço, mas que já foram tocados pela sedução do capitalismo.      

Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com