Nossa 1ª Oficina de Sistemas Alternativos de Tratamento de Esgoto conseguiu reunir 100 pessoas sem ter uma grande divulgação do evento. Excelente mesmo assim!
As pessoas da comunidade assistiram à explanação inicial de dois professores: um gaúcho dissidente que vive a causa ambiental... (Pensa, elabora e cria acordado ou dormindo. Cansado de dar com os burros n’água, ele até diz não querer fazer mais nada por ninguém...Mas mesmo sem querer, faz um colosso pelo todo). O outro, um combativo paulista, que de tranqüilo mesmo só tem a voz. Trabalhador da universidade federal, acredita em compartilhar seus conhecimentos com pessoas das comunidades e levou seus alunos pra perto daquilo que chamamos realidade e os convidou a chamar e desafiar seus professores da academia a essa aproximação.
Tive o prazer de assistir às pessoas entrarem no salão com ar preocupado...”Será que vamos mesmo ter que aceitar os emissários?” “Como é que a gente pode se colocar contra essa proposta?”...
E durante a explanação, não se ouvia um mosquito voar. Os professores convidaram as pessoas a comparar... pensar...
Para surpresa de todos, o primeiro bloco foi finalizado com uma breve apresentação de alternativas simples e nenhuma proposta mágica foi feita. O plenário foi convidado a se dividir em grupos para trabalhar sobre seis mapas dos bairros ali do sul da ilha.
Perdidos diante do convite inusitado, indagavam-se como poderiam, eles, cidadãos comuns, sem conhecimento técnico trabalhar soluções... em mapas???
A princípio, as pessoas reunidas em volta das mesas não se aventuraram a debruçar-se sobre os mesmos e se limitavam a auxiliar os jovens universitários, que se colocaram à disposição para monitorar os trabalhos, a fixar o material sobre a mesa. O exercício de ser acreditado enquanto indivíduo pensante era definitivamente algo novo ali.
Aos poucos, contudo, as pessoas foram compreendendo como identificar as bacias hidrográficas daquela terra de todos e de ninguém e o exercício começou a pegar fogo. Homens e mulheres foram se encontrando e adotando os bairros. Homens e mulheres comuns começaram a descobrir - se tão pensantes, apesar de tantas dúvidas, quanto os acreditados técnicos e acadêmicos!!! Ora, quem diria! Era tudo uma questão de lógica! E aqueles dois professores acolheram o movimento- circulavam, conversavam, instigavam...
A hora do intervalo chegou. Ninguém foi embora... Ninguém se afastou...
A fome maior era a da oportunidade. Fome do saber e mais, fome do poder ser e pensar.
A pausa foi rápida. E ninguém reclamou do café e nem que queria mais biscoito.
A apresentação dos mapas foi feita pelos integrantes dos grupos. Gente. Nenhum expert. Só gente comum... eu, você...
O resultado obtido foi inegavelmente interessante. Grupos de moradores de distritos diferentes trabalharam sobre os mapas de distritos vizinhos. Seis equipes trabalhando separadamente sobre seis mapas dos três bairros do sul da ilha...
As sugestões de soluções criadas pelas equipes que cobriram o mesmo distrito foram confrontadas, revelando propostas e dúvidas muitíssimo parecidas... Sem mencionar o desvelamento de problemas em certas áreas críticas, que só poderão ter uma solução se as comunidades se compuserem como um todo, chamando a um confronto os interesses individualistas e bairristas.
Tive o prazer de ver pessoas se aproximarem do local da oficina cheias de dúvidas, e saírem de lá cheias de si. Algumas com mais dúvidas, outras desejosas de um aprofundamento das informações, outras, certamente indignadas, mas todas, certamente, muito mais dignas
Parabéns aos professores e a todos!
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