O dia de sábado amanheceu nublado, bom para o trabalho ao ar livre.
A expectativa de um sol bom se estenderia até o dia seguinte, contudo, para que nossa ação de arte-protesto pudesse ter êxito.
A tarde foi ficando agitada na frente da escola Brigadeiro. Aos poucos as pessoas iam chegando e se organizando para a montagem do tubo, protagonista vilão de nossa encenação.
Uma parte do grupo unia as pontas dos canos, outras pessoas trabalhavam na montagem de bandeiras de peixes e na pintura de placas. Uns do distrito do Pântano do Sul, outros do Ribeirão e outros do Campeche. Ninguém era mais importante do que ninguém. A idéia perdera autoria. Construção de obra coletiva para o benefício de ninguém mais importante do que TODOS NÓS.
Idéias, sugestões, tentativas e as soluções foram sendo encontradas até que o esqueleto do cano desfilou atravessando nosso canteiro. O coração foi-se enchendo de prazer. Cada gota de suor, cada idéia integrada, um calo na mão, corte no dedo, cansaço... e o amor pela construção se aprofundava.
O tecido por fim, foi estendido e o cano tomou a forma perfeita. Os olhos se encheram de orgulho e as dúvidas do sucesso foram se dissipando...
A maquiagem final... A autoria daquilo que é alvo símbolo da destruição de nossa terra- PAC e Casan foram denunciadas nas paredes escuras de nosso canão.
A chuva veio fina, então, e nos refrescou e desafiou. Nosso emissário foi levado para dentro dos muros da escola, passando no teste do transporte. Resistente e leve produziu doce sensação de vitória. Mas era grande demais para passar pela porta do refeitório e alguém levara embora as chaves do ginásio, deixando o gigante sem abrigo para a noite...
Enquanto recebia acabamento final na pintura, recebeu também recheio nas entranhas. Conteúdo político, social e humano, que ao final dos trabalhos foi cuidadosamente protegido do tempo por uma gigantesca lona.
Olhos se abriram pela manhã despertados naturalmente, pelo sol, som das campainha, ou pelo susto de uma longa curta noite agitada, cansada da expectativa, revestida por um ar quente e parado que nutria a preocupação. Saltavam da cama as diferentes figuras rumo à epopéia final.
Os planos iam bem, mas as perguntas, dúvidas e receios penetravam indesejáveis em meio aos ânimos.
No pátio vazio, o cano foi descoberto e era tudo realidade!
Carregadores de diferentes idéias e de portes variados foram chegando e o tubão, conexão de tantas diferenças, foi levado para o pátio externo junto à rua.
Aos poucos mais pessoas... e a equipe de apoio se formou.
Megafone, coroas de flores, orientações, entrevistas...
O tubão despertava curiosidade. As pessoas discutiam soluções e repudiavam a loucura. O modelo de sanemaneto ganhou a boca das pessoas que se esqueceram temporariamente de seus cachorros, das novelas da TV e da noitada vivida, para falar de uma realidade muito mais cheia de vida e emoção do que qualquer obra comprada.
Era a arte tomando seu lugar. O protesto bem vindo para dar forma à massa perdida.
A estrutura de nossa obra coletiva era examinada e opiniões e olhares saltavam para dentro do monstrengo que seria exterminado.
Anunciada a partida do féretro, todos queriam carregar o canão. Ao som de instrumentos os passos foram se ritmando e a empreitada anunciada aos passantes e curiosos.
Chegamos à praia e enfeitamos o cenário com o emissário. A visitação à suas entranhas estava aberta. A fila se estendia para fora e escorregava para dentro da instalação que denunciava as intimidades mais estranhas dos habitantes dessa terra.
Pendurados, assentados, escorregadios artigos e peças esvoaçantes decoravam o cenário grotesco daquilo que poderia ser uma pitada de nossa imaginação. À saída do tubo, aos pés do mar, peixinhos coloridos encontravam seus porta-bandeiras que foram se reunindo para a dança final. Enquanto aguardavam o momento da partida, a equipe de escravos da Jacto-Bosta se postou perfilada ao emissário. Contratado da empresa, o capataz ordenava a seus subordinados, os comandos, aos brados, cheio de empáfia e rudez. Denúncia do momento de tristeza vivido pelas comunidades do Ribeirão da Ilha e Campeche, quando a notícia de que um emissário seria construindo numa ou noutra localidade.
A equipe da Jacto-Bosta rolava o cano para o lado do Campeche e os peixes enraivecidos bradavam “Aqui, não!”. Quando rolavam o cano para o Ribeirão, os peixes desesperados respondiam “Aqui, não!”. Até que em coro, ambos os lados repudiaram a presença do monstrengo.
Instalado a contragosto, os peixes seguiram suas vidas e os cardumes desfilaram pelas areias da praia do Campeche. Ao passarem pela frente do emissário, a morte.
Os vários peixes coloridos engajaram-se em desfile de vida e morte até surgiu no ar uma vez mais, a indagação: “Vocês querem o emissário?”
Em coro fechado, o ‘não” se fez ouvir e o emissário foi atacado a golpes de todos os tipos.
A resistente estrutura deixou dúvidas se iria colapsar. Não cedia à torcida nem aos solavancos recebidos. Criativos, os peixes, usaram então suas bandeiras e romperam as paredes cinzas do emissário. Criadores se misturaram aos cardumes e quebraram espinha dorsal do monstrengo que veio ao chão ao som de gritos de comemoração e risadas.
Braços erguidos comemoravam a vitória e os restos mortais do vilão foi carregado para fora da praia ao som de música alegre e desfile de carnaval. A bernunça correu atrás da banda e se esbaldou abrindo sua boca e engolindo os restos do cano aos pedaços.
Na praia, a equipe de limpeza reorganizou o espaço, deixando limpa a areia como deve ser. Os banhistas voltaram a admirar a natureza e refrescar-se nas águas claras com novos assuntos a trocar e enfim, uma opinião a ser dada.
Cansados da marcha da volta, os artistas convidados voltaram à cena de suas vidas e a equipe de desmontagem não parou até que o último pedaço de madeira ou cano tivesse sido recolhido.
Foi assim a manhã desse domingo, dia 6 de Dezembro de 2009.
Consagrada experiência de arte efêmera, arte –protesto que chega até as pessoas nas ruas e até os mais distraídos que se dissolvem nas areias das praias.
Informação para todos os tipos.
Informação para saber o que está acontecendo.
Informação para se criar soluções.
Informação para se chegar a soluções.
Informação para se saber, pensar, atuar, integrar e mudar.
MOSAL- é MOvimento , é SAneamento de idéias e muita ALegria.
MOvimento SAneamento Alternativo.
Trazendo uma nova concepção de vida ao movimento social que se constrói em nossa cidade.
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